terça-feira, 20 de setembro de 2011

18

Pouco tempo atrás eu tive esse sonho onde eu era um músico de pouco mais de 50 anos em uma banda. Em determinado ponto do show eu iria cantar uma música solo onde meus companheiros de banda tocariam os instrumentos e ia ter um DJ atrás mandando uns samples. Era pra ser um tipo de rap e eu ia usar uns pedais junto com os microfones pra mandar uns efeitos na voz e tudo o mais.

Nesse ponto do show eu pego o microfone eu vou pra frente do palco, e falo alguma coisa pra platéia que os faz saber qual era a música do momento. Todos vão à loucura, vejo pessoas exageradamente excitadas com a expectativa. Quando a música começa eu começo a mandar minhas melhores rimas com o melhor flow possível, mas as pessoas só me olham com seriedade, não sei dizer se elas estão gostando ou não. A banda nunca tocou tão bem, tudo tá no lugar e eu tento incitar a platéia a participar mais, mas todos os milhares de pares de olhos apenas me olham como que hipnotizados. Na verdade não sei se a palavra certa seria hipnotizados, a platéia parecia me comer com os olhos.

Decido mergulhar entre eles pra ver o que acontece, e ver se desperto alguma reação. Onde eu pulo sou levantado, mas nada além disso, e o resto da platéia segue parado e me mirando com os olhos. Luto um pouco e volto para o palco onde eu continuo cantando até perder completamente a vontade. Quando paro, as pessoas seguem me olhando da mesma forma e assim continuam. Eu não suporto mais isso e saio do palco até meu camarim, onde me sento. O show terminou.

Meus companheiros de banda aparecem logo depois e começam a me perguntar o que tinha acontecido. Eu perguntei se eles não tinham reparado na ação da platéia, e que não consegui aguentar todos aqueles olhos inexpressivos em cima de mim, não demonstrando nem rejeição e nem aceitação. Meus companheiros não me entendem muito bem, apenas se olham confusos, até que um deles se vira e fala.

"Só hoje você percebeu isso? Todos os nossos shows sempre foram assim."

Sim, era verdade. Todos os shows tinham sido assim até hoje. Não só os daquela banda, mas de todas as bandas do mundo. Minha percepção que era diferente até aquela noite.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

17

Meio-dia, não tem comida pronta e você está com fome. Abra a geladeira e acharás tomate, cebola, cenoura e salsicha. O que farás? Um cachorro quente puxado no vegetal? NÃO, reúna tudo com um miojo qualquer de sua preferência e siga a receita:

Miojo misturado nº7

INGREDIENTES:

- 1 tomate médio.
- 1/2 cebola.
- 1 cenoura pequena.
- 2 ovos.
- 2 salsichas.
- 1 miojo qualquer.
- sal à gosto ou o próprio tempero do miojo, tanto faz.

MODUS OPERANDI:

Pegue uma panela média e coloque água suficiente pra cobrir todos os ingredientes. Bote pra aquecer em fogo baixo. Pegue as duas salsichas e bote em outra panela, pra cozinhar separadamente e tirar um pouco do corante de urucum delas, senão o caldo vai ficar vermelho demais.

Enquanto a água aquece devagar, pique ou fatie a cebola e reserve. Corte o tomate em rodelas, e reserve também. A cenoura pique em rodelas bem finas, BEM FINAS! Se as rodelas ficarem grossas demais não vão cozinhar direito e vão acabar ficando duras.

Não te mandei lavar os vegetais porque é algo óbvio, e em tempos de infecção letal por E. coli, isso é nada mais que bom senso. Podemos não estar na Europa, e os jornais dizem que é seguro, mas não custa nada né? (eu sei que você vai ferver tudo, mas porra, larga mão de ser preguiçoso)

Ok, quando você terminar de picar tudo a água já vai estar numa temperatura boa. Bote tudo lá dentro e aumente o fogo.

Aí você vai ter que esperar um pouco mesmo, ligue a tv ou cante uma música, mexendo os vegetais de vez em quando com cuidado.

Quando você perceber que os vegetais jão estão quase cozidos, junte o miojo à água. Pode abaixar um pouco o fogo e tanto faz se você gosta do miojo completo ou se vc quebra ele em pedacinhos, não deixa de ser macarrão. É uma boa idéia colocar as duas salsichas junto também, elas já devem estar num ponto bom, e não vai mais deixar o caldo tão vermelho.

Agora veja bem, o tomate já dá um vermelho no caldo, mas é aquele vermelho natural, não aquele vermelho nojento de água de salsicha. A salsicha é cozida em outra panela mais pela estética do prato.

Quebre os dois ovos em cima de tudo e deixe que afundem. NÃO MEXA. O grande lance é que as gemas continuem inteiras, se você mexer eles vão se desmanchar na água.

Aguarde até que o macarrão fique todo mole ou que as gemas estejam cozidas e desligue. Coloque sal a gosto ou o tempero do miojo, e sirva.

Acho que rende pra umas 3 pessoas comerem e ficarem bem satisfeitas. Eu como sozinho, mas fico totalmente imprestável depois, capaz de dormir por horas.

BON APPÉTIT!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

16

Cheguei na passeata meio preguiçoso, esperando que não acontecesse nada demais naquele dia. Certo que vi vários policiais pelas esquinas até chegar no local combinado, bem como cordões de isolamento e cones. Não me importei.

Chegando na aglomeração comecei a conversar amenidades com algumas pessoas, o pessoal estava bem tranqüilo e o clima era pacífico. Então deu a hora marcada e começamos a caminhar timidamente pelas ruas vazias, com a polícia nos encarando. As pessoas andavam lentamente, algumas com cartazes, outras com camisetas expondo seus pontos de vista. Mas eu não me importava com nada disso, só tinha ido lá porque não tinha mais o que fazer mesmo, e aparentemente simpatizava com a causa.

Conforme caminhávamos, percebi que a atitude dos policiais foi mudando. Primeiro suas expressões foram do desinteressado e observante pro nervoso e impaciente. Depois, quando alguns cordões de isolamento foram rompidos, começou um leve empurra empurra. De uma hora pra outra a multidão dispersou, e eu me vi caminhando junto com mais umas 4 pessoas.

Foi aí que começou a dar merda.

Não escutei nada, mas uma pessoa do grupo me dizia que tinha levado um tapa de um policial. Um pouco mais em frente achamos um sujeito com os olhos irritados dizendo que tinha sido atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo. Achamos mais pessoas na mesma situação pelo caminho. E em uma dobra de esquina próxima ao largo de Pinheiros (só então consegui identificar o lugar em que estávamos) vimos uma parede de policiais jogando granadas de efeito moral. Corremos.

Uma garota do grupo não conseguia nos acompanhar, então a peguei pelo braço. Como estava quase a arrastando, e vendo que era pequena, achei que seria mais produtivo se a levasse nas costas e a fiz subir em mim. Em determinado ponto vi uma rua vazia que daria na Rebouças, poderiamos escapar por alí, e corri como o vento. Ví que outras pessoas na frente tinham tido a mesma idéia, e ví também que soldados do exército haviam montado um lança granadas posicionado estratégicamente numa rua paralela. Não achei que fossem capazes, mas fizeram o lançamento e atingiram em cheio o grupo que ia a nossa frente, e eu os vi desaparecer numa nuvem vermelho amarelada. Dei meia volta e corri ainda mais rápido (se é que era possível, com o peso extra de uma garota pequena nas minhas costas).

Achei uma casa com portão estreito e frágil, que chutei pra abrir. Entrei na casa, eu e a garota que agora caminhava ao meu lado, e fomos avançando. Era uma casa que não se estendia horizontalmente, e sim verticalmente, mas pra baixo. Fomos ao subsolo, achando que estariamos mais seguros de bombas, quando achamos a família de ocupantes (uma mulher e suas duas crianças) protegidas por um cobertor. Ela nos recebeu com um sorriso e nos sentamos, nos sentindo seguros. Ela nos serviu café e começamos a conversar.

Foi quando eu ouvi "e isso é tudo culpa daquele goleiro fulano...".

Aí eu me toquei que tudo aquilo tinha a ver com futebol. Eu simpatizava com a causa da passeata, mas até então não tinha parado pra pensar sobre o assunto de fato. Ignorei completamente os dizeres nas placas e camisas dos participantes. Só então percebi do que tudo aquilo se tratava.

Me achei um idiota e acordei.

sábado, 14 de maio de 2011

15

Se imagina aí, 10:30 da noite, você sentado na sua poltrona e assistindo seu programa favorito na televisão. Se você olhar pela janela vai ver nuvens acinzentadas carregadas, o prenúncio de uma tempestade. E você na sua sala, sentado e possivelmente coberto, quente e confortável.

De repente um raio cai sobre a distribuidora de energia elétrica do seu bairro, causando um fluxo de energia maior que o normal, queimando sua televisão e mais algumas lâmpadas da sua casa. A sua diversão sem mais nem menos acabou. Você fica puto, porque vai ter que comprar uma tv nova, e nem sabe se foi só ela que queimou, quem sabe outros eletrodomésticos também? Mas você resolve se deitar, já é tarde, amanhã você se preocupa melhor com isso.

Agora imagina, com a queda desse raio solitário que queimou a sua tv, na explosão de faíscas dentro do aparelho quantas milhões bactérias e outros seres microscópicos foram simplesmente incinerados na fração de segundos.

Em uma escala galáctica, se o nosso sol resolvesse explodir de uma hora pra outra o número de seres humanos mortos no planeta seria equivalente ao número de seres microscópicos mortos dento do seu televisor no momento em que ele queimou. (ok, forcei a barra no número)

Mas nós estamos seguros. Não há nenhuma explosão ou implosão programada do sol pelos próximos 6 bilhões de anos.